porto II
preso no ninho do conforto e numa irremediável ilusão, sinto como se de repente o meu corpo transportasse kilos e kilos de peso bruto, por vezes, transpiro ao abrir a porta e ao receber um olá... acordo com uma sensação espécie metamorfose de Kafka, estou tristemente horrorizado com tudo o que não existe lá fora... nem o sol quero sentir, o ar está tão pesado, tão difícil de respirar, nada me atrai neste sítio cansado cheio de teias cinzentas no céu... barulhos das fábricas, motores que trabalham e fazem tremer o chão e as paredes das casas, homens martelam as impotentes paredes com ritmos harmónicos quase fazendo da música uma ridícula paródia... odeio o que esta cidade me faz... deixo o tempo passar, tenho de superar este sentimento de insatisfação, tenho de aprender a viver com esta decadência e gente derrotada!
os meus ouvidos, já fartos, lutam diariamente contra todas as frequências de sons urbanos, motores de carros, buzinas, brocas que furam paredes, pobres bêbados a cantarolar, passos barulhentos de sapatos desconfortáveis... não consigo fechar os olhos, os sons tornam-se cada mais presentes...
porque será que ainda estarei aqui? porque é que ainda não desisti?
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