o reflexo passado do meu copo vazio com agua
não me chames ao teu colo! a sala era de tecto baixo, quase tive de me agachar, as luzes ofuscas, as paredes pretas com fotos desfocadas penduradas solitárias... nessa altura ela bebia um copo de vinho, tinha uma saia preta remendada no traseiro e um cabelo que descia pelas costas! embriagada era mais livre que hoje sóbria, hoje tem o rosto branco os olhos caídos, os lábios secos e o cabelo viaja aos bocadinhos pelo mundo, transportando os pequenos traços de personalidade que ela deixou para trás no irremediável medo de ser e com uma inesgotável vontade de ter tudo e mais alguma coisa para que não se sinta nessa ausência de condição humana. hoje nem vejo o seu rosto, nem cheiro a sua pele, mas sei com toda a certeza que a morte apanha-se no olhar... o corpo deixou de nadar, porque penetrar o mar como os peixes é sinal de leveza e transparência, o corpo deixou de saltar porque isso relembraria o voar!
acumula pessoas e objectos como quem apanha frutos para satisfazer a fome, usa, parte, trinca, bate, esquece, adormece, perde, ganha e acumula, acumula, acumula gentes e gentes sem identidades muito menos humanidade.
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