.comment-link {margin-left:.6em;}

não há erros gramaticais ou morais, há maneiras de pensar. eu escrevo a dançar pateticamente uma musica sem som!

sábado, abril 22, 2006

hoje estive como habitualmente a passear no palácio cristal, estive largos momentos a olhar o rio e a observar a mistura entre os edifícios velhos, abandonados e partidos e os novos, feios, sem paixão.
sobre uma casa abandonada, já sem vidros nas janelas, trepava um arbusto verde bem claro, tomava já conta de quase metade de todo o telhado. umas centenas de metros à direita um grande outdoor, bock in rio dizia, realmente a cerveja é a rainha dos festivais. que tanto me comunicam estas vistas, são quase pinturas críticas sem autor da realidade actual.
era impressionante o numero de pessoas que chegava ao pequeno miradouro tirava uma foto e ia logo embora, nem por momentos respiram um pouco da paisagem... provavelmente o pouco da paisagem que viram foi no écran da camarazita digital. as vezes até me apetecia dizer qualquer coisa, tipo espera ai um bocadinho e observa um pouco a vista, mas achei melhor não, se calhar podiam estar atrasados para ver alguma novela da tvi.
não sei como nos tornamos nestes seres humanos tão automáticos, consumimos tudo tão rapidamente, nem sabemos viver e sentir os estímulos.
pus-me a observar as crianças, pareciam as únicas naquele sítio com algum brilho nos olhos, engraçado também é que ao contrário dos adultos eles estão ali a observar o que realmente lhes interessa, podem rodopiar sobre uma pedrinha, uma folha no chão ou a arranhar um tronco de uma árvore... isto é, as crianças que não estavam presas por um forte cordão umbilical dos país, havia uma que bastava se deslocar um metro fora do seu alcance já gritavam em desespero pelo seu nome não fosse algum pato nazi do palácio atacar-lhe!

sentei-me na relva a sentir o sol, lembrei-me do filme que me convidaram a ver no outro dia, o céu gira, sobre uma aldeia desertificada. lembro-me que na altura gostei do filme, mas só comecei a gostar cada vez mais à medida que o tempo foi passando e fui reflectindo sobre ele. a ausência de movimento no filme, a simplicidade das pessoas, o abandono a que foram deixados os aldeões, o contraste com estas pessoas da cidade que consomem tudo electricamente sem sentir o mínimo de emoções verdadeiramente humanas...
enquanto pensava rasgava folhas com os dedos, senti a relva ligeiramente húmida, nessa altura lembrei-me de uma pessoa com quem estava um dia lá no palácio, ela recusava-se a sentar na relva porque não estava totalmente seca... além de que também não podia apanhar sol porque sei la, ficava doente... qualquer coisa assim. escusado será dizer que passeios não era o que mais gostava de fazer com ela. aliás a partir de determinada altura deixei de os fazer com ela, acho que nem deu conta disso, mas também as nossas diferenças se tinham tornado tão distantes que seria mais fácil não gerar nenhuma guerra.
muito haveria aqui para dizer sobre relações, mas vou deixar o tempo ensinar-me mais um pouco antes de dissertar sobre as razões de estarmos com pessoas sem que consigamos partilhar as nossas experiências e vivências.
por enquanto fica esta ligeira reflexão sobre a condição humana, é negativa, mas há alturas na nossa vida que temos dificuldade em ver os lados positivos da sociedade... melhores dias virão!