viver dentro desta encenação
das coisas que menos consigo lidar é com os sentimentos forçados, o emocionalismo e sentimentalismo falso.
faz o seguinte teste, fala a alguém da realidade da pobreza e fome no terceiro mundo, tod@s olham tristes, até são capazes de chorar com tanta desgraça, até podem te dizer para te calares porque não aguentam com tanta tristeza.
no dia seguinte fala-lhes de como certos produtos que consumimos são proveniente de empresas multinacionais que exploram as pessoas no 3 mundo. escravizam os trabalhadores, dão-lhes salários miseráveis, roubam-lhes as terras obrigando-os a fugir para vidas marginais em centros urbanos miseráveis, violentos, desumanos. a passar fome, a viver sem tecto, sem segurança, sem perspectivas. então dentro dessa explicação mais elaborada sobre as condições criadas pelo poder capitalista, explica-lhes como podem consumir de forma um pouco mais responsável, produtos de origem local, evitar as grandes superfícies comerciais, boicotar certas empresas que são enormemente responsáveis por condições desumanas que vivem milhares ou milhões de pessoas, causando mortes, pobreza, fomes, guerras, tudo em nome da conta de bancária de meia de dúzia de accionistas. observa o que agora acontece; na maioria das pessoas, não vês choro, nem vislumbras um pingo de tristeza nos olhos... as respostas podem variam, "não podemos fazer nada, é assim", ou, "vai sempre haver ric@s e pobres", ou, " não é por eu deixar de consumir esses produtos que isso vai mudar", etc.
a questão é que, determinada a sua quota de responsabilidade na questão que levaria um pequeno esforço para alterar certos hábitos actuais, toda a tristeza e empatia desapareceu, o que diz muito sobre os sentimentos demonstrados no dia anterior, no fundo não passavam de encenações, falsas demonstrações de sensibilidade.
raras são as pessoas que admitem a sua culpa no processo, ou que dizem, realmente não sabia disso, deveria mudar algumas coisas mas não tenho força para tal ou não tenho capacidade para alterar o meu rumo de vida.
isto não se aplica só para este caso. existe certas normas criados pela sociedade que estamos inseridos para sentir tristeza ou certas emoções... lembram-se do 11 de Setembro? houve tanta tristeza, tanto choro, tantos minutos de silencio, mas quando aconteceu a guerra do Iraque, e milhares de pessoas morreram, milhares ficaram sem casa, milhares ficaram sem família, milhares vivem agora num clima de violência e insegurança... e onde estão os choros e os minutos de silencio e a condenação generalizada? manifestações sempre do mesmo nicho alternativo, movimentos sociais, libertários, partidos de esquerda, etc.
quando aconteceu a desgraça dos tsunamis? todos sentiam enormemente, muitos ricos até disponibilizaram quantidades enormes de dinheiro para ajudar das mais diversas maneiras.
agora explica que o impacto dos tsunamis foi tanto maior devido, ao desaparecimento dos corais (travavam a força das ondas), devido a certa vegetação específica (que ajudava a amortecer o impacto) destruída no litoral muito devido a empreendimentos turísticos nas terras paradisíacas na ásia; que já nem podemos falar em catástrofe naturais devido ao aquecimento global e suas correspondentes alterações climáticas. tendo o conhecimento de todo este panorama quantos desses ricos que disponibilizaram quantidades avultadas de dinheiro são capazes de deixar de andar de carro que contribui enormemente para o aquecimento global, ou será que deixaram de gozar das suas maravilhosas férias nos maravilhosos hotéis de 5 estrelas junto ao mar?
será que choram quando estão no seu carrinho com ar condicionado as mortes que ajudam a causar? ou quando se espreguiçam a apanhar o sol da janela do seu hotel de eleição com vista maravilhosa?
com isto queria demonstrar o que sinto uma insensibilidade dentro da sensibilidade, não passa de comportamentos automáticos, ou esperados, glorificados, aceites como caridade ou bondade.
e dentro de todas estas pequenas demonstrações teatrais que observo no meu dia-a-dia tenho uma enorme dificuldade em conseguir tolerá-las, na verdade não sei como viver no meio de tanta encenação!
preferia que dissessem logo ali, eu não me importo com os outros, estou-me-me a lixar para a vida de alguém num continente distante, tenho mais coisas que fazer, do que todo este perfume enebriante que cria (já não cria) falsas expectativas!
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