Solua

embora o céu seja lá bem alto, em sonho uma criança toca o sol, a lua as estrelas as nuvens e vive em paz partilhando o mundo. espero que um dia todas as crianças possam olhar para um mundo sem ganância e fome, o mundo das cores do sonho agora vivido que mantêm o olhar vivo daqueles olhos bem redondos. a criança antes de conhecer o mundo da cosmética. a criança antes de estar na mira do consumo, do festim de espectáculos alienantes... jogando fora o mundo das emoções, da partilha, da empatia, do amor.

durante largos anos o brilho daqueles olhos luta em sonhos contra a cobardia do nosso mundo, das tantas cores de arco-íris falsos disparadas para esconder o verdadeiro conteúdo roto e mal cheiroso... é o mundo da publicidade que esconde a escravatura num reclame de 30 segundos.

basta sair à porta e logo se encontra um grande poster do continente, da swatch, da nestlé, da benetton... as imagens são coloridas, as mensagens são mais vivas que a própria natureza... e tu que tás ai a ler sabes realmente o que se esconde por detrás das psicadélicas imagens?? povos desalojados, crianças a trabalhar por menos de um euro por dia, restrições ambientais violadas, povos na miséria... tudo se esconde por detrás do chocolate que comemos e das camisas caras que vestimos...

muitos de nós embora abalados com todas estas imagens que se soltam dos nossos ecrãs de televisão, abalados com tanta hipocrisia que já nem sabemos distinguir o verdadeiro do falso... no mundo em que a mentira é-nos repetida tantas vezes que ela torna-se o sentido de vida de todos os adultos que avistamos... muitos de nós mantemos o brilho bem dentro de nós...

solta o coração, sorri, vive, brinca, perdoa, solta-te, revolta-te, partilha, reconstrói, cria, gira e gira e gira até o coração não puder mais porque esta vida é nossa!

não consumas, cria! não gastes, vive! Não compres! Não vendas, partilha!

Viver sem sentir a posse porque o mundo é de todos nós! O Sol tá lá no céu bem alto e tod@s podemos toca-lo...

a dor em chamas

A dor em chamas

imagina um mundo sem esta dor
onde não seria preciso lutar por um céu
todos viviam na simplicidade
tudo orgânico
sem tirar mais que pôr
sem poder
sem fogo nos olhos
onde tudo se partilhava
onde todos se amavam e odiavam
e voltavam a amar
como se o ontem fosse apenas um ontem

O futuro não era o dia do juízo final
no futuro não se via o fim
sem o medo do mundo não rodar mais
porque o girar vinha com o novo dia
e o novo dia nascia sempre sem medo
sem medo das chamas ou dum ataque nuclear
sem medo de ficar sem respirar
sem medo do fumo
do mar sujo
dos rios mortos
da sede de dinheiro

onde não andávamos atarefados à procura do tempo
porque o tempo não precisa de acabar
o tempo era como o bater do coração
não havia ponteiros nem horas de chegar

imagina o mundo sem dinheiro
onde tudo se trocava
onde tudo se dava
onde tudo se recebia
sem julgar quem tem quem não tem
sem o mendigo o rejeitado
sem o palácio
as pratas
os ouros
sem as ridículas jóias
sem fumo das gigantes chaminés
sem as fábricas de dinheiro sujo
sem a merda das bombas e armas
sem a ridícula mania de conquistar e roubar

conseguíamos viver assim?
sem a fome de tanto possuir?
de maltratar para ter só mais um nota?

sem sentir a dor em chamas?
porque no terror desta vida
o corpo começa a ficar dormente
e quase nem se sente a vida a nascer
porque esta vida deita-nos abaixo
os olhos deixam de brilhar
o coração de amar
e a dor é tanta que se torna insuportável
então arde em chamas invisíveis...



Foto tirada por Joana Sa Pereira

já sou feliz… só queria…

olhar o que já foi com um pesar
carregado de passado confuso e mal enterrado
mudei o ontem que nunca quis alcançar
cai nos braços do sonho de embalar
ainda estou aqui, ainda sobrevivi
agora sou quase apenas um, não há razão para mentir

a felicidade nunca me corrompe
a felicidade nunca me mente
estou dentro de tantos sonhos que quis alcançar
amo quem merece realmente amar

lá fora o mundo sempre em chamas
invisíveis para olhos de quem é cego
e a surdez à voz da natureza é doença já quase sem cura

sempre quis mudar o alterado
sempre o achei corrupto, morto
sempre o quis olhar com olhos de ver

cheiro a gasolina a morrer lentamente
cheiro as bombas já sem pólvora
cheiro tantos olhos a abrir
mas tudo parece tão tarde para morte tão lenta
e no momento de ver a verdade os olhos vão fechar para sempre

sonho que o chão não esteja tão perto e que ainda há uma mão que nos salva
sinto-o bem dentro do meu peito, sinto-o no meu choro e um dia talvez sorriso…


Janela do Musas

Voar

Uma manha e tanto!

vejo e sinto agora

vejo...
cores vivas... agora um verde profundo...
branco e no fundo floresce o vermelho
aceso como um chama no mar

o meu coracao gelado toca o inferno
o inferno mais lindo, onde tudo é belo
não consigo nem quero agora voltar atrás
a felicidade é agora; mesmo feliz

com o desespero que reina no mundo
tu és a parede que me envolve cabeça aos pés
é parede da esperança que tanto quis alcançar
é na tua segurança que nasce um novo EU!

queria um dia mostrar a ti os mil e um coracoes que me saltam do meu peito
queria um dia mostrar os sorrisos que se soltam na minha mente com o teu cheiro
quero que me ouças quando não estou presente
quero que saibas que não ha nada mais sincero que o teu beijo

eu vi-me nos teu olhos a renascer
eu vi-me nos teus pensamentos naquelas noites misteriosas
onde os corpos se tocam sem se tocar
onde as almas se juntam nos lençois do amor

nao sei a quem agradecer para além de ti
que fazes o perdido o sonho de amanha
que fazes da desistencia um novo dia
que deixas-me sem palavras, nem dor!

tu fazes-me de mim mais do que o que sou!

9 dezembro 2004