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não há erros gramaticais ou morais, há maneiras de pensar. eu escrevo a dançar pateticamente uma musica sem som!

segunda-feira, abril 24, 2006

viver dentro desta encenação

das coisas que menos consigo lidar é com os sentimentos forçados, o emocionalismo e sentimentalismo falso.
faz o seguinte teste, fala a alguém da realidade da pobreza e fome no terceiro mundo, tod@s olham tristes, até são capazes de chorar com tanta desgraça, até podem te dizer para te calares porque não aguentam com tanta tristeza.
no dia seguinte fala-lhes de como certos produtos que consumimos são proveniente de empresas multinacionais que exploram as pessoas no 3 mundo. escravizam os trabalhadores, dão-lhes salários miseráveis, roubam-lhes as terras obrigando-os a fugir para vidas marginais em centros urbanos miseráveis, violentos, desumanos. a passar fome, a viver sem tecto, sem segurança, sem perspectivas. então dentro dessa explicação mais elaborada sobre as condições criadas pelo poder capitalista, explica-lhes como podem consumir de forma um pouco mais responsável, produtos de origem local, evitar as grandes superfícies comerciais, boicotar certas empresas que são enormemente responsáveis por condições desumanas que vivem milhares ou milhões de pessoas, causando mortes, pobreza, fomes, guerras, tudo em nome da conta de bancária de meia de dúzia de accionistas. observa o que agora acontece; na maioria das pessoas, não vês choro, nem vislumbras um pingo de tristeza nos olhos... as respostas podem variam, "não podemos fazer nada, é assim", ou, "vai sempre haver ric@s e pobres", ou, " não é por eu deixar de consumir esses produtos que isso vai mudar", etc.
a questão é que, determinada a sua quota de responsabilidade na questão que levaria um pequeno esforço para alterar certos hábitos actuais, toda a tristeza e empatia desapareceu, o que diz muito sobre os sentimentos demonstrados no dia anterior, no fundo não passavam de encenações, falsas demonstrações de sensibilidade.
raras são as pessoas que admitem a sua culpa no processo, ou que dizem, realmente não sabia disso, deveria mudar algumas coisas mas não tenho força para tal ou não tenho capacidade para alterar o meu rumo de vida.

isto não se aplica só para este caso. existe certas normas criados pela sociedade que estamos inseridos para sentir tristeza ou certas emoções... lembram-se do 11 de Setembro? houve tanta tristeza, tanto choro, tantos minutos de silencio, mas quando aconteceu a guerra do Iraque, e milhares de pessoas morreram, milhares ficaram sem casa, milhares ficaram sem família, milhares vivem agora num clima de violência e insegurança... e onde estão os choros e os minutos de silencio e a condenação generalizada? manifestações sempre do mesmo nicho alternativo, movimentos sociais, libertários, partidos de esquerda, etc.

quando aconteceu a desgraça dos tsunamis? todos sentiam enormemente, muitos ricos até disponibilizaram quantidades enormes de dinheiro para ajudar das mais diversas maneiras.
agora explica que o impacto dos tsunamis foi tanto maior devido, ao desaparecimento dos corais (travavam a força das ondas), devido a certa vegetação específica (que ajudava a amortecer o impacto) destruída no litoral muito devido a empreendimentos turísticos nas terras paradisíacas na ásia; que já nem podemos falar em catástrofe naturais devido ao aquecimento global e suas correspondentes alterações climáticas. tendo o conhecimento de todo este panorama quantos desses ricos que disponibilizaram quantidades avultadas de dinheiro são capazes de deixar de andar de carro que contribui enormemente para o aquecimento global, ou será que deixaram de gozar das suas maravilhosas férias nos maravilhosos hotéis de 5 estrelas junto ao mar?
será que choram quando estão no seu carrinho com ar condicionado as mortes que ajudam a causar? ou quando se espreguiçam a apanhar o sol da janela do seu hotel de eleição com vista maravilhosa?

com isto queria demonstrar o que sinto uma insensibilidade dentro da sensibilidade, não passa de comportamentos automáticos, ou esperados, glorificados, aceites como caridade ou bondade.
e dentro de todas estas pequenas demonstrações teatrais que observo no meu dia-a-dia tenho uma enorme dificuldade em conseguir tolerá-las, na verdade não sei como viver no meio de tanta encenação!
preferia que dissessem logo ali, eu não me importo com os outros, estou-me-me a lixar para a vida de alguém num continente distante, tenho mais coisas que fazer, do que todo este perfume enebriante que cria (já não cria) falsas expectativas!

sábado, abril 22, 2006

hoje estive como habitualmente a passear no palácio cristal, estive largos momentos a olhar o rio e a observar a mistura entre os edifícios velhos, abandonados e partidos e os novos, feios, sem paixão.
sobre uma casa abandonada, já sem vidros nas janelas, trepava um arbusto verde bem claro, tomava já conta de quase metade de todo o telhado. umas centenas de metros à direita um grande outdoor, bock in rio dizia, realmente a cerveja é a rainha dos festivais. que tanto me comunicam estas vistas, são quase pinturas críticas sem autor da realidade actual.
era impressionante o numero de pessoas que chegava ao pequeno miradouro tirava uma foto e ia logo embora, nem por momentos respiram um pouco da paisagem... provavelmente o pouco da paisagem que viram foi no écran da camarazita digital. as vezes até me apetecia dizer qualquer coisa, tipo espera ai um bocadinho e observa um pouco a vista, mas achei melhor não, se calhar podiam estar atrasados para ver alguma novela da tvi.
não sei como nos tornamos nestes seres humanos tão automáticos, consumimos tudo tão rapidamente, nem sabemos viver e sentir os estímulos.
pus-me a observar as crianças, pareciam as únicas naquele sítio com algum brilho nos olhos, engraçado também é que ao contrário dos adultos eles estão ali a observar o que realmente lhes interessa, podem rodopiar sobre uma pedrinha, uma folha no chão ou a arranhar um tronco de uma árvore... isto é, as crianças que não estavam presas por um forte cordão umbilical dos país, havia uma que bastava se deslocar um metro fora do seu alcance já gritavam em desespero pelo seu nome não fosse algum pato nazi do palácio atacar-lhe!

sentei-me na relva a sentir o sol, lembrei-me do filme que me convidaram a ver no outro dia, o céu gira, sobre uma aldeia desertificada. lembro-me que na altura gostei do filme, mas só comecei a gostar cada vez mais à medida que o tempo foi passando e fui reflectindo sobre ele. a ausência de movimento no filme, a simplicidade das pessoas, o abandono a que foram deixados os aldeões, o contraste com estas pessoas da cidade que consomem tudo electricamente sem sentir o mínimo de emoções verdadeiramente humanas...
enquanto pensava rasgava folhas com os dedos, senti a relva ligeiramente húmida, nessa altura lembrei-me de uma pessoa com quem estava um dia lá no palácio, ela recusava-se a sentar na relva porque não estava totalmente seca... além de que também não podia apanhar sol porque sei la, ficava doente... qualquer coisa assim. escusado será dizer que passeios não era o que mais gostava de fazer com ela. aliás a partir de determinada altura deixei de os fazer com ela, acho que nem deu conta disso, mas também as nossas diferenças se tinham tornado tão distantes que seria mais fácil não gerar nenhuma guerra.
muito haveria aqui para dizer sobre relações, mas vou deixar o tempo ensinar-me mais um pouco antes de dissertar sobre as razões de estarmos com pessoas sem que consigamos partilhar as nossas experiências e vivências.
por enquanto fica esta ligeira reflexão sobre a condição humana, é negativa, mas há alturas na nossa vida que temos dificuldade em ver os lados positivos da sociedade... melhores dias virão!

sexta-feira, abril 21, 2006

o purgatório

não há nada verdadeiro nesse teu andar, já deves estar farta de rodopiar sobre esse teu umbigo morto. não és mulher, não és homem, não és criança, muito menos real, não passas de um acto de fé do status quo.
e um dia, embora não te lembres, ainda estavas a tempo de te salvar. agora reza para que a tua morte venha bem cedo, o caminho agora é sempre a descer. no afundar encontrarás o perfume encantado da vida chamado mentira.
nestes teus últimos dias na terra, queria que fossem sem dor, apesar de saber que esse caminho da ausência foi tomado sobre teu julgamento e decisão. e embora mereças toda a dor que o tempo trará doí-me pensar que vás sofrer dessa maneira tão horrível e bruta.

e dentro desta bola de cristal que o bom senso me ofereceu, já nem vislumbro uma ponta de sorriso nesses teus lábios que tanta oportunidade tiveram de crescer belos e sedutores.
e as tuas amigas pop que saíram todas de uma maquina de fotocopias e que te levam a reboque para a sua quinta da monocultura, da mono sílaba e do mono pensamento poderão cantar todas em simultâneo nesse karaoke espalhafatoso com os pulmões cheios de ar enquanto o teu coração se eclipsa com tanta estupidez colectiva.

o caminho

gostava de descansar pendurado a uma oliveira, sentir o vento a derrapar sobre as suas folhas e ouvir todos os seus contos.

sinto as gotas da chuva a percorrer lentamente o meu couro cabeludo, estou imóvel, os meus lábios fechados, os meus olhos semi-cerrados, o cheiro a gasolina queimada assombra o ar cansado e condensado. de nada servem as boas intenções da chuva, o surdo ganhou novamente.

olho o céu com medo de vertigens, sinto os enormes prédios, sejam descascados sejam limpos a convergirem sobre o ponto do meu olhar... toda esta estupidez impede-me por momentos de sonhar.

gostava tanto de conhecer alguém que valha a pena amar, gostava tanto de conhecer alguém que soubesse falar, gostava tanto de conhecer alguém que me deixasse ouvir. somente para que não tenha de percorrer este caminho tão simples sozinho, somente para não pensar que todo o ser humano é feito de plástico e perfume.

terça-feira, abril 18, 2006

o estado das nações (a era do materialismo)

não serão a maior parte das pessoas mais obcecadas por objectos do que por vivências ricas, como amor, amizade, sentir o cheiro do mar, o calor do sol? não escolhem parceiros devido ao seu estatuto social? não preferem andar de carro a ter os filhos e netos com um ar puro? não preferem ir todas as noites às discotecas do que à serra ou ao rio? não matam animais só para satisfazer o paladar? não preferem foder a amar? não ligam mais à imagem que ao conteúdo? não preferem as séries e filmes mais superficiais e repetitivos? não preferem as músicas mais desprovidas de conteúdo? não desistem de amar para comprar? não preferem ser burras a pensar? não preferem fumar a viver mais? não aceitam a fome que os alimenta?

segunda-feira, abril 17, 2006

novo amanhecer

olho o horizonte marítimo, no fundo o sol sobe lentamente, a sua luz aquece-me e faz-me esquecer. ao caminhar com os olhos pelo céu do mar encontro o meu reflexo curado, livre da morte, carregado de tanta dor. mas neste momento sinto não haveria tanto sofrimento sem amor e vida. abraço o sofrimento, juntos seguiremos o caminho sem medo do medo.
hoje tento aceitar esta dor como a maior dádiva que este ser redondo e frágil me ofereceu com o intuito de o poder amar.

sei, que bem para lá de todo o subtil que observamos, existe todo um mundo novo para descobrir, não seria o sol tão forte e a lua tão bela, não seria o mar tão enorme e suas ondas tão femininas.
e neste desconforto e insegurança da solidão, aprendo novamente a caminhar, desta vez, com certezas sobre quem tem na realidade a capacidade de sentir.

domingo, abril 16, 2006

sem título

tu aí, sozinha, no frio da vida, a fazer o que te mandam não desistas sem lutar!
tu aí, que envelheces prematuramente, que já não sonhas, não me digas que já não há esperança!

tenho aqui os meus dedos a teclar, tenho esta cadeira de madeira que desalinha as minhas costas, tenho este écran de alta tecnologia, tenho dezenas de fios ligados a esta máquina do esquecimento... mas tenho estes olhos cheios de vida e tenho esta enorme vontade de voar bem longe!!

falo para ti, mas não está ninguém aí... grito para ti, não está ninguém aí! não digas que acabou... lembras-te do mundo que esqueci? lembras-te de quando éramos crianças e como fugimos? porque desististe de lutar???
agora que cresci contigo mais forte, tu cresceste mais fria...

tu aí, sozinha, com esses sorrisos falsos e essas palavras nuas porque não me ouves? porque não me ajudas a abrir a janela?
tu aí, sem fantasia, que deixas todas essas minhocas entrar pela cabeça sem lutar? porque não tentas como eu te libertar?!!!!!!!!!!!!

sábado, abril 15, 2006

a dor

o silencio, o olhar vazio, a dor!
o silencio, o olhar vazio, a dor!
o silencio, o olhar vazio, a dor!
o silencio, o olhar vazio, a dor!

a carcaça deixada por entre rios de gentes, a dor!
o fim de todo o saborear do infinito, a dor!
o arrepio que me prende a garganta, a dor!
o véu queimado à porta da igreja, a dor!
a tua mancha no meu corpo nu, a dor!

o amor ausente, seria muito melhor que este amor dado morto!
as costas frias, o sangue estático, a faca a perfurar lentamente tão forte coração! a dor!
o terror tornou-se gélido, impávido e sereno! a dor!

aprendi a matar-te! meu sonho!
aprendi a derrotar-te! minha utopia inocente!
aprenderei a esquecer-te! minha dor!
e mataste-me sem cessar vezes sem conta, e agora... só as minhas cinzas gritam por ti! meu amor!

sexta-feira, abril 14, 2006

amor por um cadáver

eu ouço a voz que me diz para seguir, e que já nada posso fazer nesta luta endiabrada que travei. eu só queria-te sentir a sorrir, queria tanto que nunca deixasses de ouvir!

está tudo à tua frente, mesmo na frente desses teus olhos esquecidos numa multidão! e o caminho que escolheste será premiado com a grande coroa da obediência.

chamei-te uma ultima vez, mas estás morta, e agora só me resta o amor por esse teu cadáver... que mesmo assim estende-se com toda a sua formosura. ali deitado sem vida, mas ainda assim com muito mais classe que esse teu achado de vulgaridade.

morta, morta, morta, por vezes o mais belo sucumbe no meio de tanto ódio e normalidade doente. resta-me agora eu, sozinho nesta luta por não deixar de ser, nesta luta por algum sentido, nesta luta por não adormecer no quartel do inimigo.
talvez, depois de tanta dor, já nem seja eu a escrever, seja a minha rebeldia nascida deste sofrimento injusto. pouco importa, lutamos pelo mesmo!

agora quase te consigo ver, com todos esses sacos de plástico enchidos de ar no cérebro e tu ai escondida no conforto da morte e da ausência. ninguém te julga porque ninguém te vê, agora, segues a felicidade infeliz de não ser e assim rodopias na pista de dança com o teu eu preso à sombra no meio de todos rodopios e saltos em direcção à morte...

quinta-feira, abril 13, 2006

e agora atreves-te a andar com os meus?

que ilusão! fui mesmo engolido pela mentira. e pensar que tanto critiquei quem vive na mentira... agora passo os minutos retirar capas e capas de disfarce, é incrível o quanto um corpo com amor consegue suportar.
deveria a verdade aparecer tão repentinamente? realmente percebo agora quem quer viver sem sentir...
a ausência de compaixão será irremediável? como podemos chamá-la ao mundo? só vislumbro as suas cinzas sobre as peles cheias de brilhantes carnavalescos!

é difícil descobrir o que é real ou não no meio de tantas mentiras em cima de verdades mentidas. e as capas vão sendo atiradas para o chão que treme com tanto peso... mesmo assim agora neste momento mais inseguro eu sei, pelo menos em mim, o que esconde a ultima capa... e é o amor mais puro que nasceu da liberdade de ser. mas em ti? nunca saberás porque nem te atreves a sequer tocar na primeira capa, já aprendeste o jogo da dormência, talvez da demência, ou achas que conseguirias matar tão facilmente com o teu ser descoberto e acordado? mas quem sou eu agora para julgar? eu que tanto tentei sem sucesso andar com os teus sapatos?

domingo, abril 09, 2006

no mundo em que o mudo fala e o surdo ouve

mudo o mudo? falarei para o surdo? como te posso dizer que a vida é tão bela? que tudo isso se esconde no sítio que mais receias?

bastaria parares e sentires o vento a brincar com as tuas orelhas... deixar que os pelos da tua pele se levantem e dancem ao som do seu zumbido leve e agradável. deixar que o sol te estremeça e acalme aos poucos.
assim sorririas para a vida, como se anjos te levassem para um paraíso distante de onde pudesses ver o mundo com outros olhos.

tanto gostaria de te explicar se por momentos deixasses de ser surda e muda, se por momentos virasses para mim os teus olhos e o teu coração, se só por momentos vejas que tal como tu também não sou mudo e tal como tu desejo caminhar contigo na luta descontraída do amor e no meio de tantos protestos e tantos nãos soltaremos da forma mais descomplexada o nosso sorriso.

de momento nunca imaginarás que a vida mais simples e harmoniosa com a natureza não se trata de uma abstinência ao conforto nem de uma luta contra ti, trata-se sim da tua essência, aquela que ainda só ouves se te aventurares um pouco a parares todo o teu movimento automático.

e tu, que tanto falaste para a natureza, que tanto sonhaste com a amor, com a alma gémea e felicidade e que agora, tudo está ao teu alcance, não será hoje a altura certa para parares e seguires sem medo esse movimento?