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não há erros gramaticais ou morais, há maneiras de pensar. eu escrevo a dançar pateticamente uma musica sem som!

quarta-feira, março 23, 2005

café, a arma anti-revolucionária (amanhã não bebas café)

hoje ordenam os reflexos e o movimento é em ruptura com a harmonia de deus(?), jogos, imagens coloridas uma após outra, a beleza virada em vulgar nas 1001 imagens que ultrapassam o sono, o desmaio...
automóveis ultra-rápidos e os toques de campainha a chamar todas as crianças para as aulas mexendo com a adrenalina no coração e o medo de algo perder algo no meio de tanta azáfama!

é a vida imposta em stress constante, o único remédio para nos mantermos em ritmo é nos drogarmos com café e mais café para que os olhos estejam bem abertos sem que nenhum movimento rápido nos escape à retina!!

tudo é consumido no mais reduzido espaço e tempo, todo o conhecimento que passa é só uma pequena parte, o cuspo descartável para que assim possa existir a palavra preconceito no dicionário. para quem parou por um segundo ouvem-se vozes murmurando debaixo dos nossos passeios, debaixo chão dos nossos lares, dentro das nossas mágicas televisões!!

durante horas a fio, todos os anos, alunos sentam-se nas mesas que são tão quadradas quanto pretendem moldar suas cabeças! É hora de aprender a raciocinar sem pensar, é hora de aprender a obedecer sem nunca se atrever a questionar, é tempo de descobrir como milhões de crianças em todo o mundo não passam de máquinas em construção numa fábrica.

eficientes, rápidas, infalíveis, obedientes... assim são as nossas máquinas humanas, como único efeito secundário desta mutação observa-se o stress... nada que não se possa combater com uma simpática chávena de café bem forte!

domingo, março 13, 2005

pelo fim das chamas

o cheiro da pólvora logo pela manha, o medo do fogo pela noite, crianças - umas sem vida outras sem futuro! o som estridente das bombas, tiros e alarmes chega todas as noites, os gritos em dor sem esperança... pouco a pouco com o terror de todas as imagens o coração manda chumbo para as artérias, as lágrimas ficam dormentes, o sorriso é reflexo doente... os filhos sem vida, uns transformados em mutantes, outros mortos vivos!

o sangue derrama já sem vida, sem volta, os aviões partem mas as chamas prevalecem entre as ruínas e mortos. é pior para quem sobrevive destinado a morte lenta e dolorosa muitas vezes já sem ninguém para amar ou partilhar o mais ínfimo momento.

na guerra todos morrem, morrem por matar morrem por morrer. na guerra a dor é muda, na guerra por mais que choremos todos morrem sem esperança de um fim. a guerra nunca termina, por mais que acabem as balas, as bombas, tudo arde até as cinzas declararem a morte!

os homens são de pedra, os corações que sobrevivem ficam congelados à espera do calor para partirem de vez!

para quê?
porquê?

manifesta-te contra a guerra para o fim de outras guerras dia 19



sobre a guerra autor da pintura desconhecido

sexta-feira, março 11, 2005

com poder contra o poder

o poder finca suas garras sobre o indefeso mudo na esperança que o mudo mude para surdo...

o poder fabrica todos os sonhos e amor para quem desistiu de amar e sonhar...

o poder impõe com toda a sua força e prepotência os seus sonhos e amor a quem insiste não desistir do seu canto e retrato incondicionado...

o poder pega em tudo o que é verdadeiro e transforma-o em falsidade eloquente e requintada…

mulheres, negros, homossexuais, idealistas e todos os habituais inimigos do poder são muitas vezes, na tentativa de encontrar espaço para a sua condição e cultura, engolidos pelo o próprio poder transmutando a sua posição de oprimido para opressor, de visão dissonante e desviada para visão unilateral e normalizada...

viver em igualdade e sem poder nunca é nos tornarmos iguais, marchar em obediência ao capital e todos os tipos de autoridade mas sim ter o mesmo direito, espaço e ar para a nossa própria condição e cultura, ancestral ou não, partilhada ou não.

para o acabar do poder é necessário renunciar à posse e ao conforto do mundo unidimensional imposto pelo poder mascarado de amigo...

não desistas da tua condição, da tua cultura, da tua raça, dos teus ideais, da tua luta incessante, do teu amor, da tua vida em liberdade, da tua felicidade incondicionada...

vive na penumbra da tua sombra, no limiar da loucura mais sã, no profundo amor e simbiose da vida!



eles comem o mundo

terça-feira, março 08, 2005

a fuga aos sinais



tirada num cafe em braga perto da estação de autocarros.

sinto que o meu mundo se torna cada vez menos aparência ou imagem desfocada, mais do que o sonho transmutado em dever.
com o crescer foca-se a imagem dum espelho semi-partido, duma sociedade conspiradora virada para a ilusão da vida não vivida.

quero perdoar tod@s porque sei que isto não passa de um sonho, consciente de que um dia pode ser o maior pesadelo da humanidade e do planeta. as vezes penso que aos poucos torno-me mudo, não é o medo, é a segurança nos meus ideais que me fazem partir para o meu mundo maluco das cores e da vida em amor invulgar (invulgar digo eu), fugindo do sonho iludido.

sinto-me arrogante, mas não posso viver sem fugir desse sonho que corrompe o amor como a água que cola-se às paredes do copo até se tornar imperceptível aos olhares infra-vermelhos mais atentos.

descobri como é que o criador de sonhos transforma a palavra amor em egoísmo sem que nem a mínima alma se aperceba da evidente alteração de letras. foi no frio do pesadelo que observei gigantes antenas que enviam sinais para os céus, sinais esses que vão ao céu buscar as forças para depois, mesmo com resistência do vento, entrarem bem dentro das nossas cabeças como raios cósmicos vindo do espaço mais profundo alterando o nosso ser(adn).
hoje ainda fujo, rodopio e desvio-me com golpes de artes marciais consciente que não há capacete que resista a tal frequência...

quinta-feira, março 03, 2005

o ninguém abrigo

deitado junto à porta a dormir o sono mais leve, a agua da chuva entra pela roupa que usas há uma semana... o vento e as costas molhadas torna o frio cortante, entrando pelo corpo até à ultima costela, o teu sono torna-se paralisado com o terror do medo de não aguentar mais!

enrolado nos cobertores rasgados, esburacados, pretos do tabaco que fumas e que te arranca os dentes um a um, olhas a pedir por caridade, por moedas que guardas na esperança de deixar a veia gorda durante a noite!

um olhar distante a pedir por perto, junto das milhares faces que te atravessam ora sorrindo, ora cantando, ora com um olhar triste porque perderam o amor ou talvez o emprego. o teu olhar nem pode ser momentaneamente triste porque a única coisa que podes perder é os teus cobertores que as vezes roubam sem saber que estão rotos e mal cheirosos, o teu olhar é sempre triste e pesado porque o nada que tens a perder significa o pouco que ganhas a não ser a agulha que pica e te mostra a dor mais que conhecida do imaginário de viver a não vida que tens.

o preto e os olhos sem nenhum brilho escondem a beleza por detrás do teu rosto que talvez, nem sei, um dia foi feliz, amando uma mulher e quem sabe um filho que se perdeu...
passo por ti todos os dias e nem sei o teu nome nem como ficaste assim, deve ser porque resisto à tua existência, porque apesar de todo o meu idealismo vejo-te como todos te vêm, como ninguém. a tua existência causaria as maiores dores no peito que subiriam à consciência e responsabilidade de te tirar da rua e cuidar de ti.
vejo-te pela minha janela do meu quarto quente, vejo o teu tremer e as tuas lágrimas que há tanto o tempo já secou...
vejo a minha inércia, a minha incapacidade de agir, de falar, de te dirigir um carinho com medo que deites para sempre lágrimas de sangue...

no fundo tenho medo que existas mesmo, que essa tua dor seja mais que verdadeira e que tenha de desistir de todos os meus confortos em protesto com a cruel vida que te deram...
como pode ser que tantos que vivem e dormem à tua volta se mantêm imunes ao teu nada, ao teu tempo parado na esquina do supermercado?
dias passam e a tua dor toma conta do meu corpo...

tenho a maior das vergonhas deste mundo frio, competitivo, desumano, cruel, cruel, cruel que criamos e aceitamos com a nossa obediência ao conforto!

nota: dedicado a um sem abrigo que vive e dorme na rua mesmo em frente à minha janela...

quarta-feira, março 02, 2005

risca preta

dorme dorme dorme dorme!!! enquanto as milhares de cores da vida espalham-se e diluem-se em sonhos… dorme dorme dorme dorme!!! enquanto deixas que o mundo se pinte de preto, hoje é um rabisco amanha um quadrado preenchido de cinzento, depois de amanha nem as minhas palavras mais tristes o podem definir… enquanto o mundo foge tu ficas sozinho no teu quarto a olhar a parede e a encher os bolsos de rebuçados…

não sei o que faz o ser humano desistir, não sei o que o faz deixar de sentir… por mais que puxe pelos seus cabelos, por mais que grite nos seus ouvidos, por mais que o abane, puxe as orelhas, nada o aparece acordar deste tão seu estado de sonolência…



foto e parede pintada por joana
espero que não tenha estragado nada com esta minha interpretação :)

o verde falso

no outro dia enquanto pisava memórias felizes da minha infância lembrei-me das visitas regulares (todos os anos) que a minha família fazia e faz ao porto santo.
era um sítio pacífico, onde a paisagem é um contraste em relação à madeira (foi onde vivi ate aos 18 anos), enquanto na madeira a paisagem é muito verde e o tempo húmido no porto santo a paisagem é amarelada e o tempo seco. em breve esse amarelo tornar-se-á verde com os gigantes campos de golfe que irão ser construídos para os ricos e turistas se divertirem. Não tenho nada contra o verde, tenho sim contra a descaracterização dos sítios e contra o golfe em si, é um desporto que exige demasiado das paisagens transformando-as ocupando espaços enormes além das enormes quantidades de agua necessárias para que a relva fique em estado perfeito…
no porto santo virão barcos da madeira carregados de agua para abastecer os campos de verde falso, como se a agua fosse muita na madeira para dar-se ao luxo de tal coisa (quantos há sem agua e saneamento básico?). Muitos, dizem felizes e contentes da vida que os campos vão ocupar quase toda a ilha, ficando só a praia… há quem diga que o porto santo é só praia e boas discotecas à noite… agora, para quem tem muito papel e metal também haverá golfe!
imagino agora as minhas viagens de barco até ao porto santo… ao longe em vez do amarelo com as pequenas pintas de verde que espreitam nos picos verei o verde da mentira, o verde falso, o verde da riqueza, do luxo.
como era bom antigamente passear na ilha de bicicleta, nem era necessário semáforos porque quase não havia transito, agora no barco que vai da madeira ao porto santo tem espaço para automóveis, todos podem levar o seu carrinho para que não falta nenhuma das comodidades do mundo moderno… a ilha enche-se de grandes hotéis já quase mais altos que os todos os picos, de paraíso de todos para paraíso dos ricos assim se transformam os sítios… nem o tão longe porto santo escapa a esta forma de vida parasitaria, de vírus que espalha a falsidade, o betão, os automóveis, os campos de golfe…
enquanto visitava a minha infância pensei para mim será que um dia vou poder levar os meus filhos a algum sítio livre destas invasões parasitárias? será a terra infinita? o que podemos nós jovens idealistas fazer para que este pesadelo termine?
uma coisa eu sei, ou é fim de tod@s ou é o fim dos ricos, eu luto pela segunda hipótese…