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não há erros gramaticais ou morais, há maneiras de pensar. eu escrevo a dançar pateticamente uma musica sem som!

terça-feira, agosto 30, 2005

porto II

preso no ninho do conforto e numa irremediável ilusão, sinto como se de repente o meu corpo transportasse kilos e kilos de peso bruto, por vezes, transpiro ao abrir a porta e ao receber um olá... acordo com uma sensação espécie metamorfose de Kafka, estou tristemente horrorizado com tudo o que não existe lá fora... nem o sol quero sentir, o ar está tão pesado, tão difícil de respirar, nada me atrai neste sítio cansado cheio de teias cinzentas no céu... barulhos das fábricas, motores que trabalham e fazem tremer o chão e as paredes das casas, homens martelam as impotentes paredes com ritmos harmónicos quase fazendo da música uma ridícula paródia... odeio o que esta cidade me faz... deixo o tempo passar, tenho de superar este sentimento de insatisfação, tenho de aprender a viver com esta decadência e gente derrotada!
os meus ouvidos, já fartos, lutam diariamente contra todas as frequências de sons urbanos, motores de carros, buzinas, brocas que furam paredes, pobres bêbados a cantarolar, passos barulhentos de sapatos desconfortáveis... não consigo fechar os olhos, os sons tornam-se cada mais presentes...
porque será que ainda estarei aqui? porque é que ainda não desisti?

domingo, agosto 28, 2005

agua


http://www.mayang.com/

empoleirados no muro junto ao rio, desfilando os seus trapos, exibindo sem vergonhas as suas manchas no corpo sujas... crianças sem pão atiram-se ao rio... saltam de cabeça, de rabo, de costas, de pés, o modo é sempre diferente a excitação é sempre a mesma... quase vejo as manchas do rio poluído a atacarem os pequenos corpos que dançam naquela agua do futuro sem futuro, que reflecte o amanhã deste pequeno e frágil planeta...
mas elas nada sabem e não quererão saber desta bola de cristal... pudera, porquê estragar esta felicidade presente, até porque o futuro e o passado não são mais que os olhos deste próprio presente... também não serei eu a dizer que o rio em que nadam tem a magia de nos mostrar o perigoso futuro... também quero por vezes esquecer as visões, quero sentir o conforto da sua imensidão, das suas ondas e da sua sabedoria!

terça-feira, agosto 23, 2005

a inevitável luta para não deixar de ser

martelos martelam pregos bem dentro das nossas cabeças, há tantos sentimentos e emoções para espezinhar, há tanta autenticidade para adormecer, há tanta criatividade para anestesiar... as vezes desisto de tentar pensar, as vezes desisto de tentar imaginar, estou farto de tantos pregos, tanta dor e tanto sofrimento!
há dias que me vejo no outro lado, o lado paradisíaco onde nada nos toca, nada nos afecta, nada nos faz sofrer...
estarei a morrer? ou estarei a adormecer?

a razão da revolta está sempre bem alto, mas a revolta não tem energia para tanta razão... vivemos com este monstro de duas cabeças nas nossas vidas, que por vezes paralisam o pensamento com imagens hipnóticas, leves e fortes, de beleza estonteante e de aparência irresistível...
enquanto nos entretêm com este fluxo de imagens santas insistem em arrancar os neurónios com os seus dentes de ouro inquebráveis!!

nesta luta viciada só pode haver um vencedor... e será no dia em que desistir de lutar para ganhar e decidir lutar para sonhar que os demónios se transformarão em anjos!

domingo, agosto 21, 2005

still




hoje decidi escrever para este blog de maneira diferente, vou tentar descrever todos os meus pensamentos. estou a ouvir nine inch nails, é um grupo que comecei a ouvir na adolescência numa altura muito rebelde e diria muito única! comecei a aperceber-me que era muito diferente das outras pessoas com quem convivia, tão diferente que era assustador... aprendi a viver com a solidão do meu pensamento, que nunca me apercebi porquê, era e é a coisa mais importante para mim, aqueles pensamentos, aqueles filmes na cabeça... acho que foi tarde para começar, mas agradeço à vida ter começado, ter-me apercebido que tenho um pensamento muito próprio (muito provavelmente todos devemos ter um)! sinto hoje algo muito parecido com que sentia quando tinha 16 anos, só tem a diferença de saber lidar agora com esta solidão de pensamento, e saber partilha-la também... ouvir os nine inch nails mostra-me a mesma pessoa que sou, apesar do meu olhar mais seguro e convicto! este album, still, deve ser o album mais melancólico e depressivo que já ouvi... eu gosto da depressão e melancolia na arte, faz-me sentir bem, faz-me buscar todos os pensamentos mais escondidos e mais bem guardados...

as vezes tenho medo de sentir o meu idealismo mais longe, menos fantasiado, menos colorido... tenho algum medo de crescer, da maturidade, do conformismo... sinto que tenho de arranjar soluções, agora que tenho 25 anos e muito em breve vou começar a trabalhar e a ter menos tempo para pensar e mesmo sentir... pensar e sentir são a minha vida, por mais chato que tal pareça, eu posso mesmo afirmar prefiro ficar no meu canto a pensar do que viajar por todos os cantos no mundo... mas claro uma coisa não invalida a outra...
penso que as vezes as viagens obrigam-nos a pensar, com todo os medos, mundos e gentes que nos deparamos, no entanto dentro da na nossa cabeça existem mais que mil mundos para viajarmos... é só fechar os olhos, ouvir a música e deixar a melancolia ajudar-nos a descobrir o ritmo da batida do nosso grande coração...

sinto-me a pessoa com mais sorte no mundo por tantas razões, mas principalmente por ter bem junto do meu pensamento a minha companheira joaninha, que é a pessoa mais carinhosa, compreensiva que pode existir, ela nunca me para de surpreender e é com ela que partilho tudo o que posso, tudo o que sinto... e foi com ela que aprendi a ouvir o outro, a amar a diferença e mesmo a igualdade! ela é alguém que me surpreende todos os dias com a sua criatividade e pensamento único e é o mundo mais lindo que já conheci... nunca partilhei tanto com alguém, nem nunca conheci tanto de alguém... sinto que cresço agora junto com alguém que é tão diferente mas no fundo tão igual a mim...

quarta-feira, agosto 17, 2005

porto

parte i

já lançaste bem um olhar sobre esta cidade abetanada, onde os poucos jardins transpiram verde apagado, derrotado, murcho, sem qualquer esperança... as casas em cima de casas, as tintas descolam-se das paredes abandonadas, os novos apartamentos gabam-se de ter derrotado mais um espaço sem cimento, muros crescem vertiginosamente sem qualquer murmúrio a pedir desculpa. no outro dia ao lançar um olhar sobre o rio, senti as suas aguas à beira do desespero suicida... esforço-me por encontrar a beleza e maravilha que tanto ouço falar... só vejo olhos sem brilho, gente à fome, pessoas que se cruzam sem se olharem, como se de invisíveis nos tratássemos... crianças já sem qualquer sorriso na face a não ser quando se colocam em bicos de pés a olhar uma montra e a deliciarem-se com o novo modelo de telemóvel...
as portas automáticas dos bancos abrem-se e fecham-se e não vejo nem sinto ninguém a atravessá-las...
porto para mim transformas-te rapidamente em pó e muros sem cor, em gentes vazias e tristes, em pobres e velhos abandonados, em homens e mulheres sem amor com fome por dinheiro e centros comerciais!

parte ii (repetição)
os olhos avistam gaia a partir do palácio cristal, 31 de julho

o cimento está descalço e os edifícios deixados ao abandono. janelas partidas, paredes sem cor beijando o
o rio transformado em espuma e cinzento da actividade desumana.
vivemos presos a estes muros mais altos que nós na frustrante tentativa de nos taparem o céu, o verde, o nu, o belo, o selvagem, o perfeito...
caminhamos vivendo um sonho com fim, um sonho que se consome como uma fatia de tarte, na ilusão da droga da letargia, da apatia, da indiferença, do medo submisso, da alegre escravatura do ser...
não pensar é o lema desta vida cada vez mais rápida, mas cada vez mais oca, recheada com o mais precioso ouro mas de interior de absoluto vazio...
a vontade transforma-se em lojas da moda, grandes televisores e corpos que dançam ao barulho sem vida nas grandes e ensurdecedoras discotecas!
caímos no nada, somos nada, vivemos nas nossas casas uns em cima dos outros, cheios de fortes paredes de cores artificiais, com as nossas caixas de roupa e bens que de nada nos servem senão a nossa imediata e curta felicidade... estamos a morrer...

pedro g